O Maker's Mark 46 Chegou ao Brasil: Entre o Paraíso e o Purgatório dos R$ 315,00

Lembram da história do Rei Midas? Aquele sujeito ganancioso que pediu aos deuses para transformar tudo que tocasse em ouro, só para descobrir que até mesmo sua comida e sua filha viraram metal precioso? Bem, a história do Maker's Mark 46 no mercado brasileiro tem um quê dessa fábula clássica - só que em vez de ouro, estamos falando de carvalho francês queimado e um preço que pode transformar sua conta bancária em pó.

Por R$ 315,00, este bourbon "French Oaked" finalmente pisou em solo tupiniquim, prometendo ser a evolução natural do clássico Maker's Mark que conhecemos. Mas será que vale a pena vender um rim para experimentar essa tal "revolução" em garrafa? Spoiler alert: a resposta é mais complicada que explicar Bitcoin para sua avó.

A Criança Prodígio que Demorou 52 Anos para Nascer

O Maker's Mark 46 é o filho rebelde de Bill Samuels Jr., que aparentemente acordou um dia em 2010 e pensou: "Sabe o que nossa destilaria precisa? De algo novo pela primeira vez desde 1958!" Imaginem só - uma empresa que ficou mais de meio século fazendo a mesma receita, como aquele restaurante italiano da esquina que se recusa a tirar o nhoque de quinta-feira do cardápio.

A genialidade (ou loucura) por trás do 46 está no processo: eles pegam o Maker's Mark tradicional já maturado, enfiam 10 ripas de carvalho francês queimado dentro do barril como se fosse um churrasco gourmet, e deixam descansar por mais 2-3 meses em suas famosas adegas de calcário. O nome "46" vem do código da Independent Stave Company para esse perfil específico de ripa - porque aparentemente até madeira tem número de RG nos Estados Unidos.

O Que Dizem os Gringos (E Por Que Devemos Nos Importar)

Consultando as fontes mais respeitadas do whisky internacional, descobrimos que o Maker's Mark 46 é mais polarizante que discussão sobre abacaxi na pizza. O Whisky Advocate, essa bíblia dos bebedores refinados, deu uma nota respeitável de 87/100, elogiando os "aromas de cerejas cozidas e ameixas, caramelo, cacau em pó" mas criticando o "final curto e couro".

Já o Breaking Bourbon foi mais generoso, destacando que o 46 "abraça completamente seu uso de ripas de carvalho francês com carvalho francês carbonizado decadente e torrada de canela com passas". Traduzindo: é como se o bourbon tivesse ido fazer intercâmbio na França e voltado com sotaque.

Mas nem tudo são flores no jardim do Kentucky. O Whiskey in my Wedding Ring foi brutal, dando apenas 3.2/10 e confessando estar "50% convencido de que a amostra ou garrafa estava contaminada". O revisor chegou ao ponto de dizer que o whisky "tem gosto de centeio" - o que, para um bourbon de trigo, é praticamente uma ofensa à família.

As Notas de Degustação: Um Passeio Sensorial (Ou Não)

No nariz, o consenso é que o Maker's Mark 46 entrega uma experiência complexa. O The Whiskey Ramble descreve "café de avelã com grandes tons de baunilha produzindo notas de crème brûlée e cream soda", enquanto o Film Whiskey encontra "cereja, caramelo, baunilha e amendoins" - basicamente, uma confeitaria inteira em forma líquida.

No paladar, a coisa fica interessante. Com seus 94 proof (47% ABV), o bourbon promete "notas doces de baunilha e crème brûlée que flutuam sobre o paladar com sensação cremosa", segundo fontes oficiais. Mas alguns críticos encontram "xarope doce enjoativo" e "carvalho fortemente carbonizado" - que pode ser bom ou ruim, dependendo se você gosta de lamber cinzeiros gourmet.

A finalização é onde as opiniões mais divergem. Enquanto uns falam de "final aveludado, sutil e agradavelmente longo", outros reclamam de "amargor do carvalho" e sensações "quase inexistentes". É como aquele filme que metade da crítica ama e a outra metade odeia - não há meio termo.

O Preço da Sofisticação (Ou: Como Quebrar Elegantemente)

Aqui chegamos ao ponto nevrálgico da questão: R$ 315,00. Para colocar em perspectiva, isso é mais caro que muitos single malts escoceses de 12 anos, muito acima de um Eagle Rare 10 anos, mais naturado, mais premiado, entretanto sem a inovação do carvalho frances, e suficiente para comprar aproximadamente 10 garrafas de cachaça de alambique.

Nos Estados Unidos, o Maker's Mark 46 custa entre US$ 35-40 (cerca de R$ 180,00 a R$ 200,00 na cotação atual). Ou seja, estamos pagando um ágio de quase 60% pelo privilégio de beber bourbon franco-americano em terras brasileiras. É como se cada gole viesse com uma taxa extra embutida.

A Verdade Inconveniente

Vamos ser honestos: o Maker's Mark 46 não é um whisky ruim. Com seu mashbill de 70% milho, 16% trigo e 14% cevada maltada, processo único de finalização com carvalho francês, e aprovação de publicações respeitadas como o Whisky Advocate, ele tem seus méritos técnicos.

O problema é que, por R$ 315,00, você está competindo com whiskies single malts muito mais complexos e bourbons de altíssimo calibre (Nem vou colocar na conta os whiskies Brasileiros)! É como comprar um Chevrolet Onix pelo preço de um Corolla - não que o Chevrolet Onix seja ruim, mas a matemática não fecha.

O Veredito Final

O Maker's Mark 46 é aquele amigo que tem potencial, mas cobra caro demais pela amizade. Se você tem R$ 315 sobrando e quer experimentar algo diferente no mundo dos bourbons, pode ser uma experiência interessante. Mas se está procurando o melhor custo-benefício em whisky, talvez seja melhor olhar para outras direções.

Para os curiosos incuráveis e colecionadores de experiências líquidas (Pensando em Biblioteca Sensorial), o 46 oferece uma janela interessante para o que acontece quando tradição encontra inovação. Para os bebedores práticos, é difícil justificar o preço quando existem alternativas mais acessíveis, de qualidade similar, entretanto mais normais.

No final das contas, como diria o próprio Rei Midas depois de aprender sua lição: nem tudo que reluz é ouro, e nem todo bourbon caro é necessariamente melhor. Às vezes, a verdadeira riqueza está em saber quando e porque gastar.

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Porque no fim do dia, a melhor maneira de descobrir se um whisky vale a pena é provando - mesmo que sua carteira reclame um pouquinho depois.

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Assista ao Review do Makers Mark Original: